sexta-feira, 15 de abril de 2016

Conflitos

Li uma frase uma vez que dizia que por trás de cada texto bonito existe um escritor sofrendo.
E é verdade. Sinto que escrevo muito melhor quando estou sofrendo. Já fazem algumas semanas que algumas frases chegam à minha mente constantemente, frases prontas, pedindo para serem escritas. Muitas vezes me sentei na frente do computador, abri um novo arquivo e parei. Parei porque tenho me esforçado para só fazer, falar e atrair coisas positivas.
Esse não vai ser um post negativo. Mas vai ser um post sobre meus dilemas. Não sei qual será a conclusão, mas sei que preciso tirar isso do peito. E aposto que muitas mães vão se identificar com o que tenho sentido.

Final de semestre é sempre mais complicado. O Thiago fica sobrecarregado com muitos trabalhos, provas, artigos e acaba ficando menos presente aqui em casa. Com isso, preciso me desdobrar para dar conta de tudo, inclusive fazer a rotina da noite com a Bella sozinha, depois limpar a cozinha, tirar o lixo e tudo que toda dona de casa faz. Não estou reclamando, pelo contrário. Sou muito grata por ter um marido que sempre divide essas tarefas comigo. Para completar, essa é a época em que ele mais precisa de apoio emocional.

Um dia desses, estava aqui sozinha com a Bella. Já eram 7 da noite (horário que normalmente a Bella vai para a cama), ela tinha pulado a soneca da tarde, se recusado a comer sopa, fruta ou qualquer outra coisa e eu estava fazendo mingau (minha última esperança de fazer a menina comer). Acho que estava fazendo tudo no modo automático porque quando me dei conta da cena, eu estava com a roupa toda suja de sopa, o cabelo há dias sem lavar, preso num coque que doía minha cabeça, misturando uma panela de mingau, com a Bella esgoelando no meu outro braço, e a cozinha parecia cena de guerra. Ela tinha tirado TODAS as panelas, toalhas e comida ao alcance dela dos armários e estava tudo no chão.

Comecei a chorar. Misturava o mingau, cantava pra Bella e chorava. Minha coluna doía, minhas olheiras estavam profundas. Bella ainda mama 4 vezes de madrugada. Tudo o que eu queria naquele momento era fugir.

Comecei a me questionar em que momento aquela tinha se tornado minha vida. Quando foi que abri mão dos meus sonhos para fazer esse papel? Não fui criada pra isso e não planejei isso. Por que eu estava ali, sendo que meus planos incluíam ser jornalista do The New York Times?

De alguma forma, encontrei forças para dar banho na Bella, ler livro, dar mamá e fazê-la dormir. Fechei a porta do quarto silenciosamente e presenciei o início de uma batalha interna. Parei para pensar na minha vida, no meu passado, presente e futuro. Em tantas mudanças, em tantas incertezas.

Me senti tão em último plano. Senti que havia abdicado tanto de mim. Mal me encontrava internamente. Mal sabia quais eram meus sonhos agora. Senti um vazio. Provavelmente tinha a ver com fome e cansaço, mas era algo mais.

Quando viemos para cá eu sabia que viveria alguns anos para apoiar meu marido e cuidar dos meus filhos. Não teria família perto e nunca quis terceirizar a educação dos meus filhos. Além disso meu visto de acompanhante não me permite estudar ou ter um emprego. Eu sabia disso tudo. Já havia conversado sobre isso com o Thiago várias vezes, mas concordei que era um sacrifício que valeria a pena. Sabia que seria difícil, porém necessário.

Foi então que hoje me lembrei de uma conversa que tive com uma querida amiga. Amiga da minha mãe, mãe dos meus amigos, minha amiga. Ela me disse "você está preparada para viver os próximos anos na sombra do seu marido?" Inicialmente a pergunta me assustou, não estava vendo a situação dessa forma. Eu disse "não sei, acho que sim". E ela me disse "Não é fácil. Você vai se sentir como um nada ás vezes. vai se esgotar e chegar ao seu limite e quando pensar no seu dia vai parecer que não fez nada. Você vai ficar mais cansada do que qualquer pessoa que trabalhe fora. Você não vai ter o reconhecimento que teria em outro lugar." Quando ouvi aquilo tudo, quase parti para a defensiva, foi quase uma ofensa para mim. Mas antes que eu pudesse responder ela completou "O seu trabalho demora para dar frutos. Ele é o mais difícil e o mais cansativo, mas também o mais recompensador, o mais bonito, o mais digno. Você vai demorar anos para sentir que o seu dia valeu alguma coisa, mas pode ter certeza que está fazendo o melhor trabalho do mundo."

Acho que não preciso dizer mais nada.

Sei que vou continuar tendo dias difíceis. Sei que posso ter minhas conquistas em paralelo com essa vida de mãe. E, deixem-me deixar claro, EU TENHO.  Ainda busco meus sonhos e ainda me realizo. Mas todos nós temos momentos de fraqueza. Em alguns momentos da vida eles são mais frquentes do que os de conquistas, mas provavelmente é nesses momentos que eu estou fazendo o melhor trabalho do mundo.




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