segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Desmame

Querida filha,

hoje foi um dia difícil para mim. A realidade é que nunca imaginei que passaria por isso, não foi assim que planejei. Hoje te amamentei pela última vez.

Há alguns meses, percebi que essa hora estava chegando. Sempre sonhei em te deixar mamar até você não querer mais, mas por vários motivos, decidi que era a hora. Tentei iniciar o desmame da forma mais natural e tranquila para nós. Tirei meu leite e misturei com leite de vaca algumas vezes para você começar a aceitar tomá-lo. Diminui as mamadas, conversei com você, te dei amor e carinho em todos os momentos. Seu pai entendeu e me apoiou e ajudou muito. Foram muitos meses nos preparando para esse momento.

Chegamos ao Brasil e você já estava mamando apenas uma vez por dia. Eu decidi aproveitar o suporte da família aqui para te distrair e me ajudar a não ceder. A verdade é que amo te amamentar. São momentos tão nossos, tão deliciosos... uma troca de olhares, carinho, são hormônios liberados, é uma coisa mágica.

Consegui passar 5 dias sem te amamentar. Você pediu algumas vezes, mas não insistiu, porque já entendeu. Claro que isso resultou em leite empedrado, dor, muita dor, peito quente e um certo desespero. Aliviei como pude, mas acabei decidindo pedir ajuda em um banco de leite.

Poucas horas antes de eu ir ao banco de leite, estávamos nós duas no quarto. Você estava distraída, eu ohei pra vc e senti "essa é minha última chance" e perguntei " filhinha, você quer mamar?" Nunca vou esquecer o brilho nos seus olhos e seu sorriso, enquanto você se atirava em meu colo e arremessava o bico longe dizendo "é! mamá!" Você mamou, eu chorei. Chorei e choro só de lembrar. Tirei uma foto para registrar esse momento doce e dolorido e me preparei.

Chegando ao banco de leite, não conseguia conter as lágrimas. Todo mundo olhava pra mim e não devia entender nada, afinal eu era a única sem um bebê e chorando sem parar. Quando a enfermeira me chamou e perguntou como podia me ajudar, eu desabei. Chorei tanto que não conseguia responder. Entre lágrimas e soluços, os olhos inchados, respondi "preciso secar meu leite". Chorei mais ainda, parecia criança. Ela me olhou preocupada e perguntou "por quê? Você perdeu o bebê?" Respondi que não, que minha filha tinha 2 anos e chorei por mais 10 minutos sem parar. Ela esperou pacientemente eu me acalmar antes de me atender.

Fizemos todo o processo de tirar o leite, compressa fria e enfaixar os seios e ela me reafirmou que eu já tinha feito o melhor que eu podia e que tinha te dado o melhor alimento do mundo por dois anos. Saí de lá em paz. Senti tristeza, mas muita paz e sensação de dever cumprido (fora o alívio de não sentir mais dor).

Acima de tudo, filha, sinto orgulho de nós duas. Nós conseguimos!!!! E não foi fácil, não é? Doeu muito no início, precisei de paciência, depois você perdeu o interesse e eu insisti. Passei por leite empedrado, febre, momentos de dúvida, "pouco leite", palpites, muitos palpites... Foram 6 meses de leite materno exclusivo, 1 ano em 2 meses em livre demanda de dia e de noite, 1 ano e meio sem qualquer outro leite, 2 anos de leite materno.

Quero que você saiba que te dei o melhor de mim, o máximo que pude e que vou sentir muita saudade desses nossos momentos. Tenho certeza que eles nos aproximaram muito, mas daqui pra frente teremos outras formas de nos aproximar e criar laços. Será uma nova fase para nós duas! Obrigada por sua paciência e por me ensinar tanto!

Te amo, minha filhinha. Pra sempre.

pedi pro Thiago tirar essa foto há mais ou menos um mês para que sempre possamos nos lembrar da alegria desses momentos.





quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Paradoxo

No momento de maior dor, senti ela nascer e a dor se transformou em prazer.
Quando achava que ia morrer, me senti renascer como uma fênix, forte, nova, pronta!
Na maternidade me encontrei ao ver que era algo que me realizava e me trazia prazer, me encontrei ao sentir que era meu propósito nessa vida. Na maternidade me perdi por não saber mais quem sou e quais os meus sonhos. Me vi sem propósito e sem rumo.
Nas minhas maiores convicções me vi de frente com minhas maiores dúvidas. Me senti insegura e incerta.
Através das lágrimas mais doloridas, vi os sorrisos mais doces e senti o toque mais suave, curando cada ferida.
Nas minhas maiores pressas e correrias, vi duas perninhas curtas, parando para ver uma borboleta e o mundo mudou de perspectiva e o relógio diminuiu o ritmo para que eu pudesse apreciar aquele momento.
Nas minhas maiores conquistas encontrei frustrações e barreiras, quando não conseguia realizar o que precisava porque outra pessoa precisava da minha atenção.
Nos momentos mais triviais aprendi lições que nunca imaginei possíveis, sentada no chão de casa, descabelada e descalça.
Na casa bagunçada, encontrei ordem e organização, quando mãozinhas pequenas me ajudaram guardar os talheres, separar as roupas ou limpar a mesinha.
Nos momentos mais silenciosos, senti caos e nos sons mais doces encontrei paz.

Nos meus momentos mais mulher, me senti menina outra vez.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Desmame Noturno

Acordei um dia naturalmente pela primeira vez em meses. Bella tinha dormido 7 horas seguidas, por algum motivo. Olhei para o Thiago e perguntei "Bella mamou essa noite?" Ele respondeu que não. Olhei o relógio e já eram 6 da manhã. Nem acreditei!!!

O dia seguiu maravilhoso! Eu me senti cheia de energia, feliz e muito mais paciente e disposta a brincar com a Bella. Foi então que comecei a pensar mais seriamente sobre realizar o desmame noturno, pois vi como podia ser uma mãe ainda melhor quando estava descansada.

Comecei a ler sobre o assunto, conversei com o Thiago, algumas amigas e com o pediatra. Bella já estava com 1 ano e 2 meses e ainda mamando 4 vezes só de madrugada. Eu já estava virando zumbi, minhas olheiras permanentes e o Thiago também se sentia sempre cansado.

Decidi. Está na hora. Ela não precisa mais mamar a noite. É hábito. Me senti segura com minha decisão. Planejamos começar quando o Thiago entrasse de férias das aulas para poder me ajudar.

O dia chegou, era uma quarta feira. Fizemos a rotina da noite com ela, como sempre... Janta, banho, livro, oração e mamá. Enquanto ela mamava olhei pra ela e falei "filhinha, vc está tão grande. Já anda, já comunica com a mamãe, já tem cadeirinha de mocinha no carro, agora vc não precisa mais mamar a noite. A noite o auau vai dormir, a mamãe vai dormir, a vovó vai dormir, os esquilinhos vão dormir, até o sol vai dormir. Você também precisa dormir. Quando o sol aparecer, você pode mamar o quanto quiser. Mas a noite não tem mais mamá, tá bem?"

Ela sorriu e continuou mamando. E eu me preparei para o que pudesse vir. 11:00 ela acordou, demos água e ela voltou a dormir. 1:30 ela acordou. Thiago ficou com ela até as 2:00. Ela chorava e fazia sinal de mamá. Fui ficar com ela para o Thiago descansar. Passei 1 hora cantando músicas, fazendo carinho, conversando e ela chorando, puxando minha blusa e pedindo para mamar. Partiu meu coração, mas eu sabia que precisava ser firme. Dei todo o amor do mundo pra ela. 3:00 o Thiago voltou e ficou com ela mais meia hora até ela dormir.

Por volta das 4 ela acordou de novo, demorou mais uns 40 minutos para dormir. Ás 6:00 ela chamou e eu peguei ela, mostrei o sol pela janela e falei "agora você pode mamar". Ela mamou, mamou, mamou. Foi um alívio para nós duas, porque eu estava com o peito gigante.

A partir daí só melhorou. Já tivemos 2 episódios dela dormir a noite inteirinha. Mas ultimamente ela nem tem pedido para mamar e quando pede, logo volta a dormir, quando explicamos que está de noite.

Estou vivendo outra vida, com mais energia e dias mais divertidos com ela. O humor dela melhorou porque ela tem dormido mais a noite. Tenho certeza de que tomamos a decisão certa, no momento certo. Não teria feito antes e nem esperado mais. Segui meus instintos e foi maravilhoso, apesar de muito difícil.

Cada mãe sabe seu momento, seu limite. Eu cheguei no meu. Continuo amamentando em livre demanda durante o dia e AMO. São momentos íntimos de nós duas, que eu adoro. Principalmente quando ela olha pra mim, sorri e continua mamando. Ou quando ela pede quando eu abaixo a blusa, ela dá gargalhadas e vem com a linguinha pra fora, doida para mamar.

Leitinho da mamãe é amor líquido.

manhã pós noite 1. Desespero.

Manhã pós noite 10 - dormimos a noite toda!

amor líquido

sábado, 7 de maio de 2016

Colo

Hoje eu queria o colo dela. Não só hoje, todos os dias. Os dias que não quero colo, quero compartilhar com ela as alegrias, quero a companhia dela.
Quero fazer supermercado com ela, almoçar na casa dela. Quero ver TV com ela, mesmo com ela dormindo. Quero ir levar a Stella no ballet e ficar horas esperando. Quero deitar na cama dela quando ela acaba de arrumar, só pra ela ficar brava.
Quero sentar e observar ela fazendo mil ligações, mandar emails, organizar os papéis em sua agenda. Quero buscar um copo cheio de gelo pra ela. Quero ir ao shopping com ela. Quero deixar minha filha com ela pra ir passear.
Quero os conselhos dela, mesmo os que eu ignoro. Quero o cheiro dela quando ela sai do banho e passa creme e põe sua camisola. Quero ouvir ela cantar enquanto me faz cafuné. Quero brincar de supermercado com ela.
Quero que ela sente na beira da minha cama e escreva no meu diário tudo o que eu ditar. Quero que ela faça brigadeiro e bolo para celebrar o aniversário das minhas bonecas. Quero que ela faça comidinha de verdade nas micropanelinhas.
Quero ir pra praia com ela e catar as conchinhas mais lindas pra dar pra ela. Quero escolher uma flor e dar pra ela, sem arrancar, pra não machucar. Quero ler livros com ela. Quero usar as mesmas pantufas que ela.
Quero um abraço, um beijo. Quero mais que o facetime.
Só queria estar com ela agora...

Vem logo mamãe!!! Estou te esperando!













sexta-feira, 15 de abril de 2016

Conflitos

Li uma frase uma vez que dizia que por trás de cada texto bonito existe um escritor sofrendo.
E é verdade. Sinto que escrevo muito melhor quando estou sofrendo. Já fazem algumas semanas que algumas frases chegam à minha mente constantemente, frases prontas, pedindo para serem escritas. Muitas vezes me sentei na frente do computador, abri um novo arquivo e parei. Parei porque tenho me esforçado para só fazer, falar e atrair coisas positivas.
Esse não vai ser um post negativo. Mas vai ser um post sobre meus dilemas. Não sei qual será a conclusão, mas sei que preciso tirar isso do peito. E aposto que muitas mães vão se identificar com o que tenho sentido.

Final de semestre é sempre mais complicado. O Thiago fica sobrecarregado com muitos trabalhos, provas, artigos e acaba ficando menos presente aqui em casa. Com isso, preciso me desdobrar para dar conta de tudo, inclusive fazer a rotina da noite com a Bella sozinha, depois limpar a cozinha, tirar o lixo e tudo que toda dona de casa faz. Não estou reclamando, pelo contrário. Sou muito grata por ter um marido que sempre divide essas tarefas comigo. Para completar, essa é a época em que ele mais precisa de apoio emocional.

Um dia desses, estava aqui sozinha com a Bella. Já eram 7 da noite (horário que normalmente a Bella vai para a cama), ela tinha pulado a soneca da tarde, se recusado a comer sopa, fruta ou qualquer outra coisa e eu estava fazendo mingau (minha última esperança de fazer a menina comer). Acho que estava fazendo tudo no modo automático porque quando me dei conta da cena, eu estava com a roupa toda suja de sopa, o cabelo há dias sem lavar, preso num coque que doía minha cabeça, misturando uma panela de mingau, com a Bella esgoelando no meu outro braço, e a cozinha parecia cena de guerra. Ela tinha tirado TODAS as panelas, toalhas e comida ao alcance dela dos armários e estava tudo no chão.

Comecei a chorar. Misturava o mingau, cantava pra Bella e chorava. Minha coluna doía, minhas olheiras estavam profundas. Bella ainda mama 4 vezes de madrugada. Tudo o que eu queria naquele momento era fugir.

Comecei a me questionar em que momento aquela tinha se tornado minha vida. Quando foi que abri mão dos meus sonhos para fazer esse papel? Não fui criada pra isso e não planejei isso. Por que eu estava ali, sendo que meus planos incluíam ser jornalista do The New York Times?

De alguma forma, encontrei forças para dar banho na Bella, ler livro, dar mamá e fazê-la dormir. Fechei a porta do quarto silenciosamente e presenciei o início de uma batalha interna. Parei para pensar na minha vida, no meu passado, presente e futuro. Em tantas mudanças, em tantas incertezas.

Me senti tão em último plano. Senti que havia abdicado tanto de mim. Mal me encontrava internamente. Mal sabia quais eram meus sonhos agora. Senti um vazio. Provavelmente tinha a ver com fome e cansaço, mas era algo mais.

Quando viemos para cá eu sabia que viveria alguns anos para apoiar meu marido e cuidar dos meus filhos. Não teria família perto e nunca quis terceirizar a educação dos meus filhos. Além disso meu visto de acompanhante não me permite estudar ou ter um emprego. Eu sabia disso tudo. Já havia conversado sobre isso com o Thiago várias vezes, mas concordei que era um sacrifício que valeria a pena. Sabia que seria difícil, porém necessário.

Foi então que hoje me lembrei de uma conversa que tive com uma querida amiga. Amiga da minha mãe, mãe dos meus amigos, minha amiga. Ela me disse "você está preparada para viver os próximos anos na sombra do seu marido?" Inicialmente a pergunta me assustou, não estava vendo a situação dessa forma. Eu disse "não sei, acho que sim". E ela me disse "Não é fácil. Você vai se sentir como um nada ás vezes. vai se esgotar e chegar ao seu limite e quando pensar no seu dia vai parecer que não fez nada. Você vai ficar mais cansada do que qualquer pessoa que trabalhe fora. Você não vai ter o reconhecimento que teria em outro lugar." Quando ouvi aquilo tudo, quase parti para a defensiva, foi quase uma ofensa para mim. Mas antes que eu pudesse responder ela completou "O seu trabalho demora para dar frutos. Ele é o mais difícil e o mais cansativo, mas também o mais recompensador, o mais bonito, o mais digno. Você vai demorar anos para sentir que o seu dia valeu alguma coisa, mas pode ter certeza que está fazendo o melhor trabalho do mundo."

Acho que não preciso dizer mais nada.

Sei que vou continuar tendo dias difíceis. Sei que posso ter minhas conquistas em paralelo com essa vida de mãe. E, deixem-me deixar claro, EU TENHO.  Ainda busco meus sonhos e ainda me realizo. Mas todos nós temos momentos de fraqueza. Em alguns momentos da vida eles são mais frquentes do que os de conquistas, mas provavelmente é nesses momentos que eu estou fazendo o melhor trabalho do mundo.