O PREPARO
Desde que nos casamos procuramos sempre tomar nossas
decisões em conselho com o Senhor. No início de 2014 passamos pela maior
provação do nosso casamento até então. Durante uma das vezes que suplicava ao
Pai Celestial que me desse paz e ajudasse a compreender os propósitos Dele, eu
disse “Pai Celestial, o que devo aprender com essa provação? Quero aprender
logo para que ela passe porque já não aguento mais. Se isso for para nos
mostrar que chegou o momento de dar o próximo passo e termos um bebê, pode
mandar. Já não tomo pílula há quase um ano.” Nosso plano era esperar mais um
ano para engravidar, pois estamos novos e não tínhamos pressa. Ao terminar a
oração, li um discurso do Elder Robert D. Hales de Novembro de 2011 – Esperar no
Senhor: Seja Feita a Tua Vontade. E consegui desenvolver um pouco mais de
paciência.
No mês seguinte engravidei. Descobri no final de maio e
fiquei muito feliz e assustada. Um misto de emoções. Mas meu sonho sempre foi
ser mãe, então aceitei a ideia muito feliz e comecei a me preparer pra isso.
Durante a gravidez eu e Thiago pesquisamos muito a respeito
do parto, amamentação, educação para crianças, estímulos, etc e nos apaixonamos
juntos pela ideia de parto humanizado, natural e respeitando a mãe, o bebê e a
natureza. Eu sempre disse que queria um parto normal, mas que se precisasse
faria cesarea e nesse momento de pesquisas eu percebi que precisava decidir o
que queria e lutar por aquilo. Precisava acreditar que era capaz, ter fé e
confiar no Senhor.
Tive uma gravidez maravilhosa, curti cada minute com minha
pequena e me apaixonei varias vezes por ela. Nao tive nenhum problema ou
alteração. Ela se desenvolveu bem e eu me adaptei bem também.
Já estava determinada a ter um parto normal, o mais natural
possível e conversei com meu medico a respeito. Algumas coisas que ele pensava
eram diferentes das que eu pensava, mas por confiar e gostar dele, eu estava
disposta a abrir mão.
A ANSIEDADE
A data prevista pra ela nascer (40 semanas) era dia 15 de
janeiro. Janeiro se aproximava e todo mundo estava na expectativa, ansiosos pra conhecer nossa
mocinha. Eu já estava na 38a semana e nenhum sinal de parto. Fazia exercícios,
caminhava, ficava na água quente, tudo o que eu podia pra estimular o meu
corpo. Um dia, muito aflita, pedi ao Thiago para me dar uma bênção do
sacerdócio. O que eu queria era paz e tranquilidade. O Thiago se preparou e me
deu uma bênção maravilhosa, dizendo que o Pai Celestial estava feliz comigo e
que eu teria o parto que eu queria e que traria a Bella ao mundo com dor e
através dela eu a amaria como Ele me ama. Quando ele terminou a bênção nós dois
ficamos perplexos e eu me apeguei a essa promessa para viver as próximas
semanas.
Todo início de ano o Thiago me dá uma bênção e 2015 não foi
diferente. Na nossa noite familiar de metas, ele me deu uma bênção e reafirmou
todas as promessas feitas na bênção que tinha me dado antes.
O tempo foi passando e nada do meu corpo reagir, mas eu
ainda tinha certeza de que o Senhor cumpriria a promessa Dele e que ia dar tudo
certo e eu teria um parto normal, mas eu sentia que seria provada até o ultimo
minuto. 40 semanas. Fomos ao medico e ele disse “o colo do seu útero continua
grosso e fechado, ela ainda não encaixou. Mas como vocês duas estão muito bem,
vamos esperar mais uma semana.” Saí de lá com um pouco de medo. Eu tinha 6 dias
pra fazer meu corpo reagir e dar sinais de parto. E a essa altura, muita gente
já estava me pressionando, dizendo que era perigoso esperar mais, que eu era
irresponsável, que já tinha passado a data. Eu sabia que ela estava bem e era
isso que importava. Eu tinha que confiar no Senhor, afinal Ele tinha prometido,
a bênção tinha sido muito clara.
A SENTENÇA
Eu não dormi durante a semana seguinte. Me deitava e o sono
não vinha, me levantava e ia pra cadeira de balanço e passava horas orando ao
Pai Celestial que me desse força e fé e pedia que no dia seguinte meu corpo
desse algum sinal de parto. Numa dessas noites eu disse a Ele em uma das
orações “O Senhor prometeu que eu teria o parto que eu queria. Meu corpo tem
que reagir, porque o medico não vai esperar mais” e eu senti bem mansinho “o
parto com o seu medico não é o parto que você quer”. Só que depois de quase 41
semanas de pré-natal, eu não considerava mudar minha opção.
A data da consulta chegou, era um dia antes de completar 41
semanas. Não conseguia nem converser com o Thiago, fui muda o caminho inteiro,
morrendo de medo do que eu ouviria, mas com a esperança de ter alguma
dilatação. O medico examinou, ouviu o coração dela e disse que ela estava ótima.
Sentamos na mesa e ele disse que sabia que eu queria muito um parto normal, mas
que não seria possível e faríamos a cesárea no dia seguinte. O Thiago perguntou
sobre indução e ele respondeu impaciente que eu não tinha chance de pegar
indução e que não teria um parto normal. Eu nem consegui responder. Fiquei ali
sentada, vendo ele preencher os papéis da cesarea e ouvindo as instruções sobre
jejum absoluto, internação, anestesia, tudo o que eu não queria no meu parto.
Senti minha fé vacilar. Quando entramos no carro eu desmontei. Chorei como
nunca antes, foi o choro mais amargo que já senti. Doía minha alma e eu não
conseguia parar.
O DESESPERO
O Thiago nem foi trabalhar. Ficou comigo e tentou me
consolar, dizendo que ainda dava tempo e eu poderia entrar em trabalho de parto
até o outro dia. Para mim não tinha mais jeito, a sentença tinha sido dada e
era aquilo. O problema não era simplesmente a cesárea, mas sim o fato de que
nós duas estávamos bem, não tinha motivo para indicar a cirurgia e tínhamos nos
preparado tanto para aquele momento. O fato era que tínhamos recebido uma
promessa, à qual me apeguei até aquele momento, com toda a fé que eu tinha.
Então eu vi minha fé vacilar, me senti sozinha e desamparada. Não conseguia
compreender por que o Pai Celestial havia feito uma promessa que não cumpriria.
Foi o pior dia da minha vida, foi a pior dor que já senti. Num determinado
momento eu disse pro Thiago “tenho certeza que nem o parto pode doer tanto.
Essa dor é insuportável.”e ele sofreu comigo cada minuto, e chorou também.
ESPERANÇA
As 23:00 eu continuava chorando muito e o Thiago teve o
impulso de me dar outra bênção. Ele já tinha sentido outras vezes ao longo do
dia e ignorado, ele também estava fraco e inseguro e chegou a duvidar das
bênçãos que havia dado e questionado sua dignidade. Mas dessa vez o impulso foi
forte e ele se levantou da cama, vestiu as roupas de domingo, colocou as mãos
na minha cabeça e me deu uma bênção. No início ele me abençoou para ter paz e
naquele momento eu senti o espírito santo me consolar e o ambiente da casa
mudar, minhas lágrimas pararam e eu pensei na expiação e pude sentir Jesus
Cristo ao meu lado e soube que o Pai Celestial não havia me abandonado. Ele
prosseguiu e terminou a bênção ordenando ao meu corpo que reagisse, que a bolsa
rompesse e as contrações começassem. Senti minha fé restaurada e quando ele
tirou as mãos da minha cabeça eu me levantei e disse “Vamos andar”.
Descemos para o estacionamento do condomínio e ficamos
andando e conversando por mais de uma hora. O clima era outro, não estávamos
mais desesperados, existia uma nova esperança, uma luz e sentimos nossa fé ser
revigorada.
Acordei no dia seguinte e o céu estava lindo, muito sol,
pouca nuvem e eu estava feliz. Acordei o Thiago e disse “É hoje! Hoje vamos
conhecer nossa filhinha!” Lanchamos e fomos fazer uma caminhada. Caminhamos
bastante pra ver se estimulava o meu corpo, mas nada aconteceu. Por volta das
10 da manhã o Thiago disse “Precisamos de uma segunda opinião, vamos em outro
hospital.” Nós dois já sabíamos qual hospital seria, já que havíamos pesquisado
muito sobre ele e chegamos até a considerar fazer o pré natal e o parto lá.
Então eu cedi e sugeri que fôssemos pra casa e orássemos a respeito antes de
tomar qualquer decisão.
O CONSELHO
Chegamos em casa, cantamos um hino e escrevemos num papel as
nossas opções. 1 – Ir para o hospital onde faria a cesárea, 2 – Ir no hospital
sobre o qual havíamos pesquisado pra ouvir uma segunda opinião e 3 – Ligar para
o medico pedindo mais um dia de prazo. Decidimos que só tomaríamos alguma
atitude quando tivéssemos o mesmo sentimento. Nos ajoelhamos e fizemos uma
oração pedindo que o Senhor nos guiasse. Pude sentir claramente que a ordem era
2, 3 e 1. Escrevi num pedaço de papel e o Thiago escreveu também e quando
mostramos um pro outro, tivemos paz e certeza de que deveríamos ouvir outra
opinião.
A DECISÃO
Colocamos tudo no carro e fomos para o hospital público. No
momento que chegamos lá eu senti paz. Fomos muito bem atendidos e contamos
nossa história. Enquanto esperávamos, falei com uma amiga minha que era
enfermeira lá. Ela ligou para as colegas dela e falou que estávamos lá, fugindo
de uma cesárea. Kelly foi a enfermeira obstetriz que nos atendeu. Um verdadeiro
anjo. Ela disse que poderíamos esperar mais uma semana ou induzir o parto
naquele dia. Depois de tanta pressão e estresse, escolhemos induzir. Então ela
nos mandou para um lugar onde fazem auriculoterapia e escalda pés. Fiquei lá,
relaxando, recebendo massagens e tentando não pensar na cesárea.
Então liguei pro medico, para pedir pra ele esperar até o
dia seguinte, pois tinha medo da indução não dar certo. Quando liguei ele me
disse que não esperaria, que o coração dela estava ocilando nas duas consultas
anteriores e que ele achava que ela não resistiria ao parto normal. Desliguei o telefone quase chorando e
decidida a fazer a cesárea. Tudo o que eu queria era o bem da minha filha. O
Thiago sugeriu que escutássemos o coração dela antes de irmos embora. Esperamos
mais uma hora e eu fui para o banheiro
fazer uma oração perguntando o que deveria fazer. Antes de terminar a oração eu
ouvi claramente “Você já recebeu sua resposta na bênção. Por que pergunta de
novo?” Quando fomos atendidos, ouvimos o coraçãozinho dela e estava perfeito. A
enfermeira até riu e disse “essa escola de samba aqui? Ela está ótima!”.
Finalmente internamos e fomos fazer um eletrocardiograma, que monitoraria o
coraçãozinho dela por 30 minutos pra garantir que estava tudo bem. O exame deu
excelente e eu senti paz novamente.
O PARTO
Induzimos o parto as 19h do dia 22. 4 horas depois não tinha
evoluido nada. As 3 horas minha bolsa rompeu e eu estava com 2 cm de dilatação.
As contrações começaram e doíam muito, mas eu estava feliz por sentir aquela
dor, pois sabia que significava que meu corpo estava reagindo e que eram as
promessas do Senhor se cumprindo. Passei a noite em claro, gritando de dor,
caminhando e ficando no chuveiro. As 6 da manhã estava exausta e só tinha 4 cm
de dilatação. Eu caminhava, vomitava de dor, mesmo sem ter nada no estômago e
tentava respirar fundo. Fui acompanhada por uma doula, uma psicóloga e
enfermeiras maravilhosas, todas anjos que me ajudaram muito.
As 10 da manhã eu não aguentava mais e pedi anestesia. Meu
trabalho de parto estava lento e já tinha muitas horas que eu estava perdendo
liquido. Me deram anestesia as 11 da manhã do dia 23 de janeiro. Foi uma dose
baixa, só pra eu conseguir dormir um pouco. Junto com a anestesia, me deram
soro com ocitocina pra acelerar o processo. Dormi por 2 horas, e foi o
suficiente pro meu corpo relaxar e a Bella descer e encaixar. Acordei as 13
horas com dor de contação novamente. Decidi andar um pouco, mas quando cheguei
no corredor, a bomba de ocitocina ficou sem bateria. Enquanto as enfermeiras
resolviam o problema falei com a doula “Preciso fazer cocô”. Mal sabia eu o que
isso significava. Me levaram de volta pro quarto e eu já conseguia controlar a
dor melhor. Fiz alguns agachamentos e já me colocaram na posição de cócoras,
com o Thiago sentado atrás de mim me apoiando. Eu não entendi o que estava
acontecendo, achava que ainda faltavam umas 5 horas pra ela nascer. Então a
doula passou na frente e disse “olha, to vendo o cabelinho dela!” Eu assustei!
“Ela ta chegando?” A enfermeira já se posicionou e foi preparando tudo. Fechou
as cortinas pra deixar o quarto com pouca luz e me acalmou e disse que eu
conseguia. O Thiago me abraçou e o meu pai me deu a mão e a Bel (doula) me deu a mão também.
Empurrei umas 5 ou 6 vezes e ela nasceu. Veio direto pro meu
colo, e ficou comigo por mais de uma hora. O Thiago cortou o cordão umbilical e
ela mamou. Eu e Thiago choramos muito, não só pela emoção do nascimento, mas
principalmente por ver as promessas do Senhor se cumprindo. Senti Ele comigo o
tempo todo, e sabia que ela estava bem e nasceria saudável. Tivemos que lutar
contra o sistema, contra o medico, contra uma cesárea eletiva, com nossas
famílias e até com nós mesmos. Sem dúvida foi a maior prova de fé que já
passamos, mas nos fortalecemos e crescemos muito.
Meus anjos!