quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Relato de Parto - sem cortes

Esse é o relato completo da nossa experiência no parto. Aqui conto inclusive as experiências espirituais que tivemos. Caso não se interesse, vou escrever outra versão, mais curta depois.


O PREPARO

Desde que nos casamos procuramos sempre tomar nossas decisões em conselho com o Senhor. No início de 2014 passamos pela maior provação do nosso casamento até então. Durante uma das vezes que suplicava ao Pai Celestial que me desse paz e ajudasse a compreender os propósitos Dele, eu disse “Pai Celestial, o que devo aprender com essa provação? Quero aprender logo para que ela passe porque já não aguento mais. Se isso for para nos mostrar que chegou o momento de dar o próximo passo e termos um bebê, pode mandar. Já não tomo pílula há quase um ano.” Nosso plano era esperar mais um ano para engravidar, pois estamos novos e não tínhamos pressa. Ao terminar a oração, li um discurso do Elder Robert D. Hales de Novembro de 2011 – Esperar no Senhor: Seja Feita a Tua Vontade. E consegui desenvolver um pouco mais de paciência.
No mês seguinte engravidei. Descobri no final de maio e fiquei muito feliz e assustada. Um misto de emoções. Mas meu sonho sempre foi ser mãe, então aceitei a ideia muito feliz e comecei a me preparer pra isso.
Durante a gravidez eu e Thiago pesquisamos muito a respeito do parto, amamentação, educação para crianças, estímulos, etc e nos apaixonamos juntos pela ideia de parto humanizado, natural e respeitando a mãe, o bebê e a natureza. Eu sempre disse que queria um parto normal, mas que se precisasse faria cesarea e nesse momento de pesquisas eu percebi que precisava decidir o que queria e lutar por aquilo. Precisava acreditar que era capaz, ter fé e confiar no Senhor.
Tive uma gravidez maravilhosa, curti cada minute com minha pequena e me apaixonei varias vezes por ela. Nao tive nenhum problema ou alteração. Ela se desenvolveu bem e eu me adaptei bem também.
Já estava determinada a ter um parto normal, o mais natural possível e conversei com meu medico a respeito. Algumas coisas que ele pensava eram diferentes das que eu pensava, mas por confiar e gostar dele, eu estava disposta a abrir mão.

A ANSIEDADE

A data prevista pra ela nascer (40 semanas) era dia 15 de janeiro. Janeiro se aproximava e todo mundo estava  na expectativa, ansiosos pra conhecer nossa mocinha. Eu já estava na 38a semana e nenhum sinal de parto. Fazia exercícios, caminhava, ficava na água quente, tudo o que eu podia pra estimular o meu corpo. Um dia, muito aflita, pedi ao Thiago para me dar uma bênção do sacerdócio. O que eu queria era paz e tranquilidade. O Thiago se preparou e me deu uma bênção maravilhosa, dizendo que o Pai Celestial estava feliz comigo e que eu teria o parto que eu queria e que traria a Bella ao mundo com dor e através dela eu a amaria como Ele me ama. Quando ele terminou a bênção nós dois ficamos perplexos e eu me apeguei a essa promessa para viver as próximas semanas.
Todo início de ano o Thiago me dá uma bênção e 2015 não foi diferente. Na nossa noite familiar de metas, ele me deu uma bênção e reafirmou todas as promessas feitas na bênção que tinha me dado antes.
O tempo foi passando e nada do meu corpo reagir, mas eu ainda tinha certeza de que o Senhor cumpriria a promessa Dele e que ia dar tudo certo e eu teria um parto normal, mas eu sentia que seria provada até o ultimo minuto. 40 semanas. Fomos ao medico e ele disse “o colo do seu útero continua grosso e fechado, ela ainda não encaixou. Mas como vocês duas estão muito bem, vamos esperar mais uma semana.” Saí de lá com um pouco de medo. Eu tinha 6 dias pra fazer meu corpo reagir e dar sinais de parto. E a essa altura, muita gente já estava me pressionando, dizendo que era perigoso esperar mais, que eu era irresponsável, que já tinha passado a data. Eu sabia que ela estava bem e era isso que importava. Eu tinha que confiar no Senhor, afinal Ele tinha prometido, a bênção tinha sido muito clara.

A SENTENÇA

Eu não dormi durante a semana seguinte. Me deitava e o sono não vinha, me levantava e ia pra cadeira de balanço e passava horas orando ao Pai Celestial que me desse força e fé e pedia que no dia seguinte meu corpo desse algum sinal de parto. Numa dessas noites eu disse a Ele em uma das orações “O Senhor prometeu que eu teria o parto que eu queria. Meu corpo tem que reagir, porque o medico não vai esperar mais” e eu senti bem mansinho “o parto com o seu medico não é o parto que você quer”. Só que depois de quase 41 semanas de pré-natal, eu não considerava mudar minha opção.
A data da consulta chegou, era um dia antes de completar 41 semanas. Não conseguia nem converser com o Thiago, fui muda o caminho inteiro, morrendo de medo do que eu ouviria, mas com a esperança de ter alguma dilatação. O medico examinou, ouviu o coração dela e disse que ela estava ótima. Sentamos na mesa e ele disse que sabia que eu queria muito um parto normal, mas que não seria possível e faríamos a cesárea no dia seguinte. O Thiago perguntou sobre indução e ele respondeu impaciente que eu não tinha chance de pegar indução e que não teria um parto normal. Eu nem consegui responder. Fiquei ali sentada, vendo ele preencher os papéis da cesarea e ouvindo as instruções sobre jejum absoluto, internação, anestesia, tudo o que eu não queria no meu parto. Senti minha fé vacilar. Quando entramos no carro eu desmontei. Chorei como nunca antes, foi o choro mais amargo que já senti. Doía minha alma e eu não conseguia parar.

O DESESPERO

O Thiago nem foi trabalhar. Ficou comigo e tentou me consolar, dizendo que ainda dava tempo e eu poderia entrar em trabalho de parto até o outro dia. Para mim não tinha mais jeito, a sentença tinha sido dada e era aquilo. O problema não era simplesmente a cesárea, mas sim o fato de que nós duas estávamos bem, não tinha motivo para indicar a cirurgia e tínhamos nos preparado tanto para aquele momento. O fato era que tínhamos recebido uma promessa, à qual me apeguei até aquele momento, com toda a fé que eu tinha. Então eu vi minha fé vacilar, me senti sozinha e desamparada. Não conseguia compreender por que o Pai Celestial havia feito uma promessa que não cumpriria. Foi o pior dia da minha vida, foi a pior dor que já senti. Num determinado momento eu disse pro Thiago “tenho certeza que nem o parto pode doer tanto. Essa dor é insuportável.”e ele sofreu comigo cada minuto, e chorou também.

ESPERANÇA

As 23:00 eu continuava chorando muito e o Thiago teve o impulso de me dar outra bênção. Ele já tinha sentido outras vezes ao longo do dia e ignorado, ele também estava fraco e inseguro e chegou a duvidar das bênçãos que havia dado e questionado sua dignidade. Mas dessa vez o impulso foi forte e ele se levantou da cama, vestiu as roupas de domingo, colocou as mãos na minha cabeça e me deu uma bênção. No início ele me abençoou para ter paz e naquele momento eu senti o espírito santo me consolar e o ambiente da casa mudar, minhas lágrimas pararam e eu pensei na expiação e pude sentir Jesus Cristo ao meu lado e soube que o Pai Celestial não havia me abandonado. Ele prosseguiu e terminou a bênção ordenando ao meu corpo que reagisse, que a bolsa rompesse e as contrações começassem. Senti minha fé restaurada e quando ele tirou as mãos da minha cabeça eu me levantei e disse “Vamos andar”. 
Descemos para o estacionamento do condomínio e ficamos andando e conversando por mais de uma hora. O clima era outro, não estávamos mais desesperados, existia uma nova esperança, uma luz e sentimos nossa fé ser revigorada.
Acordei no dia seguinte e o céu estava lindo, muito sol, pouca nuvem e eu estava feliz. Acordei o Thiago e disse “É hoje! Hoje vamos conhecer nossa filhinha!” Lanchamos e fomos fazer uma caminhada. Caminhamos bastante pra ver se estimulava o meu corpo, mas nada aconteceu. Por volta das 10 da manhã o Thiago disse “Precisamos de uma segunda opinião, vamos em outro hospital.” Nós dois já sabíamos qual hospital seria, já que havíamos pesquisado muito sobre ele e chegamos até a considerar fazer o pré natal e o parto lá. Então eu cedi e sugeri que fôssemos pra casa e orássemos a respeito antes de tomar qualquer decisão.

O CONSELHO

Chegamos em casa, cantamos um hino e escrevemos num papel as nossas opções. 1 – Ir para o hospital onde faria a cesárea, 2 – Ir no hospital sobre o qual havíamos pesquisado pra ouvir uma segunda opinião e 3 – Ligar para o medico pedindo mais um dia de prazo. Decidimos que só tomaríamos alguma atitude quando tivéssemos o mesmo sentimento. Nos ajoelhamos e fizemos uma oração pedindo que o Senhor nos guiasse. Pude sentir claramente que a ordem era 2, 3 e 1. Escrevi num pedaço de papel e o Thiago escreveu também e quando mostramos um pro outro, tivemos paz e certeza de que deveríamos ouvir outra opinião.

A DECISÃO

Colocamos tudo no carro e fomos para o hospital público. No momento que chegamos lá eu senti paz. Fomos muito bem atendidos e contamos nossa história. Enquanto esperávamos, falei com uma amiga minha que era enfermeira lá. Ela ligou para as colegas dela e falou que estávamos lá, fugindo de uma cesárea. Kelly foi a enfermeira obstetriz que nos atendeu. Um verdadeiro anjo. Ela disse que poderíamos esperar mais uma semana ou induzir o parto naquele dia. Depois de tanta pressão e estresse, escolhemos induzir. Então ela nos mandou para um lugar onde fazem auriculoterapia e escalda pés. Fiquei lá, relaxando, recebendo massagens e tentando não pensar na cesárea.
Então liguei pro medico, para pedir pra ele esperar até o dia seguinte, pois tinha medo da indução não dar certo. Quando liguei ele me disse que não esperaria, que o coração dela estava ocilando nas duas consultas anteriores e que ele achava que ela não resistiria ao parto normal.  Desliguei o telefone quase chorando e decidida a fazer a cesárea. Tudo o que eu queria era o bem da minha filha. O Thiago sugeriu que escutássemos o coração dela antes de irmos embora. Esperamos mais uma hora e  eu fui para o banheiro fazer uma oração perguntando o que deveria fazer. Antes de terminar a oração eu ouvi claramente “Você já recebeu sua resposta na bênção. Por que pergunta de novo?” Quando fomos atendidos, ouvimos o coraçãozinho dela e estava perfeito. A enfermeira até riu e disse “essa escola de samba aqui? Ela está ótima!”. Finalmente internamos e fomos fazer um eletrocardiograma, que monitoraria o coraçãozinho dela por 30 minutos pra garantir que estava tudo bem. O exame deu excelente e eu senti paz novamente.

O PARTO

Induzimos o parto as 19h do dia 22. 4 horas depois não tinha evoluido nada. As 3 horas minha bolsa rompeu e eu estava com 2 cm de dilatação. As contrações começaram e doíam muito, mas eu estava feliz por sentir aquela dor, pois sabia que significava que meu corpo estava reagindo e que eram as promessas do Senhor se cumprindo. Passei a noite em claro, gritando de dor, caminhando e ficando no chuveiro. As 6 da manhã estava exausta e só tinha 4 cm de dilatação. Eu caminhava, vomitava de dor, mesmo sem ter nada no estômago e tentava respirar fundo. Fui acompanhada por uma doula, uma psicóloga e enfermeiras maravilhosas, todas anjos que me ajudaram muito.
As 10 da manhã eu não aguentava mais e pedi anestesia. Meu trabalho de parto estava lento e já tinha muitas horas que eu estava perdendo liquido. Me deram anestesia as 11 da manhã do dia 23 de janeiro. Foi uma dose baixa, só pra eu conseguir dormir um pouco. Junto com a anestesia, me deram soro com ocitocina pra acelerar o processo. Dormi por 2 horas, e foi o suficiente pro meu corpo relaxar e a Bella descer e encaixar. Acordei as 13 horas com dor de contação novamente. Decidi andar um pouco, mas quando cheguei no corredor, a bomba de ocitocina ficou sem bateria. Enquanto as enfermeiras resolviam o problema falei com a doula “Preciso fazer cocô”. Mal sabia eu o que isso significava. Me levaram de volta pro quarto e eu já conseguia controlar a dor melhor. Fiz alguns agachamentos e já me colocaram na posição de cócoras, com o Thiago sentado atrás de mim me apoiando. Eu não entendi o que estava acontecendo, achava que ainda faltavam umas 5 horas pra ela nascer. Então a doula passou na frente e disse “olha, to vendo o cabelinho dela!” Eu assustei! “Ela ta chegando?” A enfermeira já se posicionou e foi preparando tudo. Fechou as cortinas pra deixar o quarto com pouca luz e me acalmou e disse que eu conseguia. O Thiago me abraçou e o meu pai me deu a mão e a Bel (doula) me deu a mão também.
Empurrei umas 5 ou 6 vezes e ela nasceu. Veio direto pro meu colo, e ficou comigo por mais de uma hora. O Thiago cortou o cordão umbilical e ela mamou. Eu e Thiago choramos muito, não só pela emoção do nascimento, mas principalmente por ver as promessas do Senhor se cumprindo. Senti Ele comigo o tempo todo, e sabia que ela estava bem e nasceria saudável. Tivemos que lutar contra o sistema, contra o medico, contra uma cesárea eletiva, com nossas famílias e até com nós mesmos. Sem dúvida foi a maior prova de fé que já passamos, mas nos fortalecemos e crescemos muito.














Meus anjos!